A minha intervenção neste projecto colectivo resulta duma dupla apropriação do desenho, enquanto elemento de vestígio recuperado das ranhuras e fendas existentes nas paredes do quarto e do desenho também, como estereótipo, resgatado de um contexto afectivo, de uma caixa de moldes.
Trata-se de um trabalho que procura proceder a uma desmontagem da ideia de representação, questionando com ironia a comparência legitimada do desenho estereotipado, neste espaço, através da simultaneidade de combinações: do molde e do seu decalque, da matriz e da sua cópia, da forma e sua sombra.
O cliché assume aqui múltiplas presentificações, através da colagem e do decalque deslocado de figuras recortadas em cartolina, envolvidas por laivos de manchas e traçados picotados, replicando os processos de estampagem, que estas paredes evocam.
É um desenho epidérmico, no sentido da aplicação por camadas a um outro preexistente. E é um exercício “de faz de conta”.
Ao convocar estes desenhos intrusos para deambular pelas paredes, entre a luz e a penumbra, originando (im)prováveis (des)encontros, proponho conjecturar as teias de relações que estas figurinhas estabelecem ou não entre si, também com outros recortes datados, e falar da suspensão temporal que lhes está associada.